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FCS

Voto nulo é direito!

     Caros leitores.

     Inauguro meu blog com política. Embora o conteúdo da mensagem não aparente - é tema de que gosto.

     Recebo diariamente uma grande quantidade de mensagens de apoio a um ou outro candidato, para o segundo turno da sucessão presidencial. Ao mesmo tempo vejo por todos os meios de comunicação, a mesma temática, que repete-se com aparência absolutamente idêntica de pleitos anteriores. 

     Não sou um daqueles que se diz "cansado"; também não arregaço as mangas para defender Dilma ou Serra, os quais não julgo tão diabólicos assim, ao mesmo tempo em que não os julgo bons o suficiente para dirigir um país do formato que tem o Brasil. 

     Aqui exponho minhas razões para votar nulo. Faço isso porque já me considero suficientemente criticado pelos que me consideram omisso ou rebelde.

     Em primeiro lugar, eu voto nulo porque é meu direito; e isso bastaria. Assim como posso ir a um restaurante e, não gostando da comida, nunca mais voltar e, ainda, comentar com os amigos que a comida era péssima! Já votei e não gostei. Não quero mais indicar ninguém, ainda que não faça apologia de nenhum tipo ao voto nulo.

     Em segundo lugar, porque voto nulo não é omissão, é exercício de cidadania. Tá bom, é um exercício meio forçado, visto que votar é obrigação. Mas, exercito esse direito e esse dever. Temos a opção, logo, nada nos impede de optar por ela!

     Em terceiro lugar, porque voto nulo não é protesto, necessariamente.

     Em quarto lugar, porque não vejo nenhuma relação em votar nulo e não ter participação política. Afinal, a eleição é apenas uma parte deste processo. Basta refletir um pouco. Vamos distinguir a escolha por candidatos da cobrança que fazemos deles. Posso não colaborar na escolha - repito: isso é um direito meu! - mas continuarei participando das gestões. Exigindo, na medida que me permitam, e até contribuindo atia e passivamente.

     Mas, perguntam: "O que aconteceria se todos votassem nulo?". Ora, a eleição seria anulada. Ponto. Grande problema! Basta convocar outra, até que pessoas dignas do cargo apareçam. Claro que isso nunca vai acontecer, mas a lógica é essa...

   Outra pergunta: "Se não tem o candidato ideal, então escolha o menos pior". Ora, é meu direito escolher o candidato ideal e, se ele não existe, porque votaria em outro? Simples.

     Bem da verdade, eu voto nulo porque não concordo com o sistema eleitoral e com as normas bestas e liberais a que ele se submete. Considero um desrespeito ao senso crítico das pessoas a forma como as escolhas de candidatos estão sendo feitas. Baseiam-se em bobagens, promessas falsas, em críticas aos oponentes; baseiam-se no que há de pior que se pode fazer em um momento de crítica: basear-se em sofismas! E sabe o que é pior? Criticam Pelé por ter dito que o brasileiro não sabe votar! E sabe votar? Quem sabe? Eu, com minha concepção das coisas? A maioria e sua concepção das mesmas coisas? Eu, que não me traio pelas propagandas ou a maioria que o faz?

     O que vemos e todos sabemos é que o processo eleitoral brasileiro se tornou em uma grande piada. Ninguém leva a sério e, os que fazem, são arrebanhados por técnicas inaceitáveis de marketing. Certa vez, vi uma tirinha de jornal onde um cidadão comum olhava para as paredes, repletas de fotos de candidatos. Na sua fala (balãozinho) estava: "- Estão rindo de quê?" É claro, essa é apenas uma parte dos tratamentos de mercado: cara risonha denota felicidade - a felicidade que o candidato pensa que pode transmitir ao seu eleitor. O melhor exemplo, dessa chuva de hipocrisias que, sem igual, assola a história do nosso País vem do candidato a deputado federal, Tiririca (alguém sabe qual o seu nome completo?). A ele quero dizer algumas coisas: “ - Senhor Deputado, Vossa Excelência Sr.Tiririca, você está equivocado. Pior pode ficar; e – de fato - está!”.  E mais. Quero lhe dizer que "- Quando assumir seu cargo, ao entrar nas câmaras de debates, irá perceber isso. Verá o desrespeito com que se tratam os colegas de política. Verá que atendem ao celular durante as sessões, que conversam, gracejam e até dançam nessas horas. Quando você subir ao púlpito, terá uma noção melhor daquilo que estou falando. Verá que a classe política, em geral, é mal-educada, displicente, equivocada e sequer sabe o que são suas atribuições como parlamentar.

     Muitas pessoas, leia-se quase todas, jamais foi a uma Sessão da Câmara dos Vereadores de sua cidade. Se fosse, ah!, com certeza eu teria muitos que concordariam com tudo o que estou falando.

     Que me desculpem os meus amigos que, por alguma razão, enveredaram para a política. Um governador, um senador, um vice-governador, vereadores, deputados - tenho vários amigos políticos e, apenas aos bons, peço desculpas. Mas ainda assim quero que apertem o botãozinho da auto-crítica. Quero também que reflitam o fato de que mesmo que queiram “melhorar a vida das pessoas”, jargão idiota que todos vocês (sem exceção) normalmente usam para serem eleitos, continuam aplicando os mesmos métodos de política ultrapassada, paternalista e familiar de séculos atrás. Continuam adotando os mesmos preceitos antigos, dos quais já estamos fartos.

     Há algumas décadas, votava-se para se ter um mundo melhor; hoje se vota para ter uma casa melhor. E ninguém se dá conta de que a casa nunca melhora que não seja por esforço próprio das pessoas e não da classe política.

     Quero ver projetos, mas os quero depois que vocês assumirem os cargos. Quero ver que tipo de trabalho vão fazer - e prometo que vou cobrar. Quero ver se têm cuidado e propostas inteligentes e viáveis para a educação, o meio-ambiente, a saúde, a segurança... Quero ver se cobram do Executivo os trabalhos e o uso do dinheiro público. 

    O triste é saber que tudo isso que estou dizendo é mais do que dito por todos os meios de comunicação, tácita ou diretamente. Todos sabem, todos apoiam, todos concordam. E mais uma vez, a cada processo eleitoral, parece que o Brasil se transforma em uma nação de zumbis repetindo: "Voto nele porque ele é bom; ele é do povo e ele vai nos dar uma vida melhor", "Voto nele porque ele é bom; ele é do povo e ele vai nos dar uma vida melhor", "Voto nele porque ele é bom; ele é do povo e ele vai nos dar uma vida melhor"...E que disse que uma pessoa que é do povo será melhor político? Credo, que bobagem! Quem disse que algum doutor, engenheiro, médico ou biólogo fará um bom trabalho? Nós sabemos que não é assim.

     Então por favor, me deixem exercer meu direito. Estou aberto a opiniões e posso mudar de ideia, desde que muita coisa seja mudada. E que se mude essa asneira de voto obrigatório, as regras de propaganda eleitoral, o tempo destinados aos candidatos... E que mude a atual impossibilidade que temos de votar em quem mereça de fato.

     Se for possível, peço aos porcos que sujam a cidade com santinhos, que parem com isso. Mostrem que vocês estão realmente preocupados com a vida das pessoas e transformem esse papel todo em livros didáticos para serem distribuídos nas escolas públicas.

    Se for possível, embora ache impossível, parem de entupir a minha vida com porcarias, nos meus emails, na internet, nas paradas de semáforos, nas esquinas e por todo o lugar. Tenho esse direito ou não?

     FCS